segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Igreja: Natal continuado e processos de parto



«Não é falsa analogia aquela pela qual se compara a Igreja com o mistério da Encarnação: assim como a natureza assumida pelo Verbo divino lhe serve como órgão vivo de Salvação, a ele indissoluvelmente unido, de modo semelhante, a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer progredir o seu Corpo».
 
Foi a partir desta analogia, apresentada pela primeira vez pelo teólogo Möhler no século XIX e assumida pela Lumen Gentium, que nos sentamos na passada sexta-feira para escutar e aprofundar o sentido da Igreja como sinal e presença do mistério da Encarnação, e como um Corpo que, nos passos de Jesus, continua a nascer e a emergir na história. Uma imagem para falar da Igreja numa altura (sempre em risco de regressar) em que a Igreja era apenas identificada com a instituição, «sociedade perfeita» na expressão do cardeal Belarmino, perfeitamente estruturada numa hierarquia, na prática dos sacramentos, na organização do direito canónico.
 
José Pedro Angélico, cristão, apreciador da estética anos 70 (assumido pelo próprio), e também professor na Faculdade de Teologia do Porto, teve o prazer e deu o prazer à comunidade de partilhar um belo serão com uma linguagem muitas vezes esquecida do mistério da Igreja. Uma Igreja que se assume como sinal e pertença ao mesmo misterio da Encarnação é uma Igreja que reconhece a importância dos seus sinais, das suas instituições, dos seus gestos na medida em que estes significam e transparecem o Evangelho. A partir do momento em que esta missão é esquecida, os sinais e instituições tornam-se fins em si próprios, e perdem o seu significado.
 
Tudo num processo de parto, de constante re-nascimento que, hoje, nos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, continua a ser uma urgência. A fidelidade ao Concílio (e ao espírito do Novo Testamento), exigem uma Igreja em constante interrogação, em vitalidade, à procura da sua missão, à leitura dos sinais dos tempos, à procura do Evangelho de Jesus na linguagem moderna. Uma Igreja que cristaliza a sua fé e o património do Concílio é uma Igreja que deixa de re-nascer.
 
 

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