terça-feira, 24 de janeiro de 2012

25 de Janeiro de 1959

A 25 de Janeiro de 1959, numa alocução aos Cardeais reunidos na Basílica de S. Paulo Extra-Muros em Roma, anunciou João XXIII: «Anunciamos diante de vós, tremendo um pouco de emoção, mas com uma humilde resolução, o nome e a proposta de uma dupla celebração: a de um Sínodo Diocesano para a Urbe (Roma), e a de um Concílio Ecuménico para a Igreja Universal.» A par destas duas iniciativas, o Papa pedia uma actualização do Código de Direito Canónico (encontrava-se em vigor o Código de 1917).

Não deixa de ser interessante como o próprio Papa Roncalli descreve, no seu diário, o processo que levaria a esta decisão. Ele próprio compreende que a sua eleição como Papa seria para um período curto e transitório, dada a sua idade avançada:

«Quando a 28 de Outubro de 1958 os cardeais da Santa Igreja Romana me designaram para a suprema responsabilidade do governo do rebanho universal do Cristo Jesus, aos setenta e sete anos de idade, difundiu-se a convicção de que eu seria um Papa provisório de transição. Em vez disso eis-me na véspera do quarto ano de pontificado, perante a visão de um robusto programa a desenvolver diante do mundo inteiro que nos observa e espera.» (escrito a 10 de Agosto de 1961).

João XXIII afirma repetidas vezes que a ideia da convocação de um Concílio lhe surgiu de um modo inesperado, sem ter recebido alguma sugestão ou opinião, e sem ter debatido a questão com algum conselheiro. A 15 de Setembro de 1962, o Papa no seu diário agradece a graça «de me terem surgido como simples e imediatas de execução algumas ideias nada complexas, antes simplicissimas, mas de vasta responsabilidade dianto do futuro, e com sucesso imediato (…) Sem o ter pensado antes, surgiu-me num primeiro colóquio com o meu Secretário de Estado, a 20 de Janeiro de 1959, as palavras Concílio Ecuménico, Sínodo Diocesano e recomposição do Código de Direito Canónico, sem o ter pensado antes, e contrariamente a qualquer suposição ou imaginação minha sobre este ponto. O primeiro a ficar surpreendido com esta minha proposta fui eu próprio, sem que alguém me tenha alguma vez dado alguma sugestão. E no entanto tudo me pareceu depois tão natural no seu desenrolar imediato e contínuo. E depois de tres anos de preparação, laboriosos é certo, mas também felizes e tranquilos, eis-me agora ao sopé da santa montanha. Que o Senhor nos sustente em conduzir tudo a um bom termo.»

E, a 11 de Outubro de 1962, dia da Inauguração do Concílio, escreve: «Este dia assinala a abertura solene do Concílio Ecuménico. A notícia surge em todos os jornais, e em Roma encontra-se no coração exultante de todos. Agradeço ao Senhor que me permitiu não ser indigno da honra de abrir em seu nome este início de grandes graças para sua Igreja Santa. Ele fez com que a primeira semente que possibilitou, durante três anos, este acontecimento saísse da minha boca e do meu coração.»

(Para conhecer um pouco da biografia de João XXIII, basta clicar aqui)



sábado, 21 de janeiro de 2012

Uma Janela Aberta para o Mundo - 20 Janeiro 2012


Tal como o previsto e, ao mesmo tempo, muito para além das expectativas: tal foi a sessão inaugural deste ano dedicado, na Comunidade Cristã da Serra do Pilar, aos 50 anos do início do II Concílio Vaticano. Desde logo pelo número bastante grande de pessoas presentes, muitas das quais cuja presença não é habitual na comunidade. Depois pela bela conferência partilhada pelo pe. Arlindo Magalhães.

Torna-se fácil falar dos temas e das experiências que nos apaixonam; desde logo foi a frase de abertura da conferência: "O Concílio foi o acontecimento mais marcante da minha vida". Um Concílio que tantas expectativas criou, na Igreja como fora nela, e que tantas "ondas" levantou, numa Igreja que, ainda bem, é um organismo vivo e por isso com conflitos, dramas, tensões, experiências. Um Concílio que surgiu de modo inesperado da sabedoria e génio do Papa João XXIII mas que, como bem o reflectimos nesta noite, foi um Concílio nascido e pedido pelos movimentos de renovação pastoral, eclesial, bíblica, teológica e litúrgica que, desde a segunda metade do século XIX, foram crescendo no seio da Igreja. O 20º Concílio na história da Igreja, mas um Concílio inédito tanto pelo número de bispos presentes (cerca de dois mil), como pela presença de observadores, tanto de leigos como de líderes de outras Igrejas Cristãs e de outras Religiões.

Ao pedido fundamental do Papa João XXIII - o de um Concílio Pastoral, que se dedicasse à relação da Igreja com o Mundo e à renovação da linguagem da Fé - respondeu o Concílio com uma série de mudanças que renovaram por completo a compreensão que a Igreja tem de si própria assim como da sua relação com o Mundo e as Outras Igrejas e Religiões. Questões como a "igualdade fundamental dos crentes" (LG 32), a identificação com as "alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo" (GS 1), a reflexão sobre a Revelação e a Tradição ou a Reforma Litúrgica são algumas, entre outras, às quais nos dedicaremos a reflectir durante este ano. Entre todas, destaca-se o esquema utilizado na elaboração do documento Lumen Gentium, na qual o capitulo sobre a Igreja como Povo se encontra antes dos capítulos sobre a Hierarquia, os Leigos e os Religiosos: trata-se de uma verdadeira "Revolução Copernicana".

A expressão "Revolução Copernicana" foi utilizada pelo cardeal Suenens, em 1970, num congresso celebrativo do Concílio, 5 anos depois do seu final, pela revista Concilium, que editou um número especial com as intervenções do Congresso. Dizia Suenens, referindo-se à inversão que a noção de Povo causou - tratar-se do Povo antes do Papa e dos Bispos! -: “esta inversão impõe-se-nos como uma espécie de constante revolução mental, cujas consequências ainda não acabamos de medir!"

E hoje, onde encontramos presentes estas linhas fundamentais que o Concílio traçou? Na prática pastoral, na reflexão teológica, nos pronunciamentos do Magistério, na vida das Comunidades? Fará o Concílio parte apenas da história, para ser recordado com saudade ou com ironia? São retiradas todas as consequências destas intuições e revoluções? Precisa o Concílio de ser interpretado ou de ser aplicado, pergunta esta que foi lançada durante a conferência. Cerca de 120 pessoas, numa noite não excessivamente fria (temperada até, depois, com um cházinho), no belo salão nobre do quartel do RA5 da Serra do Pilar. Fica o próximo encontro, 24 de Fevereiro, à mesma hora.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O Vento


O Vento sopra contra

As janelas fechadas

Na planície imensa
Na planície absorta,
Na planície que está morta

E os cabelos do ar ondulam loucos
Tão compridos que dão a volta ao mundo

Sento-me ao lado das coisas
E bordo toda a noite a minha vida

Aqueles dias tecidos
Que tinham um ar de fantasia
Quando vieram brincar dentro de mim

E o vento contra as janelas
Faz-me pensar que eu talvez seja um pássaro.

Sophia de Mello Breyner
in: "Obra Poética I", Caminho 1999

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012





 «Apraz-nos enviar a todos os homens e a todas as nações a mensagem de Salvação, de Amor e de Paz que Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, trouxe ao mundo e confiou à Igreja.
Queremos nesta assembleia, sob a direcção do Espírito Santo, procurar como havemos de nos renovar a nós mesmos, para que sejamos encontrados cada vez mais fiéis ao Evangelho de Cristo.
De tal modo consagraremos as nossas energias e pensamentos à renovação de nós mesmos, Pastores, e do Rebanho a nós confiado, que a todos os povos se apresente amável o rosto de Jesus Cristo resplandecente em nossos corações.
Por isso, enquanto esperamos que, pelos trabalhos do Concílio, brilhe mais clara e viva a luz da fé, aguardamos uma renovação espiritual, da qual também se origine um feliz impulso que favoreça os bens humanos, isto é, as invenções da ciência, os progressos da técnica e uma difusão mais ampla da cultura.»


Assim se exprimiam os Padres Conciliares na sua Mensagem a Todos os Homens de 20 de Outubro de 1962, nos primeiros dias do II Concílio do Vaticano que haveria de dar um impulso tão grande de Reforma e Vitalidade na Igreja. Passados quase 50 anos, a Comunidade Cristã da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, deseja celebrar este acontecimento Fundante, quer para a vida da Igreja como para a vida da nossa própria Comunidade. Uma série de encontros, a par com exposições, concertos e visitas, permitir-nos-á fazer Memória e renovar estes Princípios. Um Convite que se alarga a todos os cristãos e a "todos os homens".






O primeiro encontro será já na próxima Sexta-Feira, 20 de Janeiro, pelas 21h30 no Mosteiro da Serra do Pilar (ver mapa acima). Contamos com a vossa Presença!