quinta-feira, 17 de maio de 2012

IV Sessão, «A Liturgia a Partir de Baixo», 26 Maio



Será no próximo dia 26 de Maio, Sábado, a partir das 16h30, a IV sessão das comemorações dos 50 anos do Concílio Vaticano II. Será com Ângelo Cardita, com o tema «A Liturgia a partir de baixo». Na Comunidade Cristã da Serra do Pilar. Contamos com todos!


«As acções litúrgicas não são acções privadas, mas celebrações da Igreja, que é 'sacramento de unidade', isto é, povo santo reunido e ordenado sob a direcção dos bispos.
Por isso, tais acções pertencem a todo o Corpo da Igreja, manifestam-no e afectam-no; porém, atingem cada um dos seus membros de modo diverso, segundo a diversidade dos estados, das funções e da actual participação.»

Sacrosanctum Concilium nº26

segunda-feira, 7 de maio de 2012

K. Rahner, «Marcha para o Gueto»

Um texto do teólogo alemão K. Rahner, de nome «Marcha para o Gueto», escrito em 1972 por motivo do fim de uma revista católica alemã, a «Publik», e publicado de novo agora no livro «Clamor contra el Gueto», da Editorial Trotta.

(Um pedido particular: sr.º António Coelho, agradecemos os comentários que nos enviou, mas como se tratam de questões particulares, pedimos que nos envie o seu endereço de email para podermos efectuar uma resposta. Obrigado).


«Aqui não falarei do naufrágio da Publik ainda que muitos considerem esse naufrágio como um sintoma de que aqueles que são os responsáveis por tal naufrágio (aos quais pertencem não só representantes da ‘Igreja-Instituição’ em sentido estrito, senão também muitos outros que configuram ‘o ambiente’) estão animados por uma vontade oculta de retrocesso do catolicismo alemão para o gueto, ainda que não confessem tal vontade nem a si mesmos nem muito menos aos demais. Também se sublinha que tais sintomas se multiplicam no catolicismo alemão.

A vontade de gueto que se esconde a si mesma consiste em querer manter o catolicismo alemão e a Igreja Católica alemã tal como eram antes: um grupo muito homogéneo em si mesmo na fé, na praxis e na reacção diante do ambiente social, um grupo claramente delimitado face ao exterior, que estava orgulhoso da sua unidade e do significado que tinha para o exterior. Sabia expressar as suas íntimas convicções de fé em preceitos práticos e modelos de comportamento de forma relativamente rápida e com uma adesão quase geral de todo o grupo.

Era um grupo que praticamente estava representado num partido político. Vivia, sem realmente dar-se conta, uma ‘religião’ que no geral e no seu estilo concreto, apesar de toda a sua pretensão de universalidade, correspondia a um grupo social pequeno-burguês e camponês. Propunha uma mensagem válida para todos e, por outro lado, não se sentia especialmente intranquilo no seu particularismo de índole confessional, política e cultural, porque para si mesmo era numeroso e socialmente não estavadesprovido de poder.

Deveria ficar claro que de facto não se pode voltar a tal catolicismo, e também que a intenção de semelhante retorno contradiz o espírito do último Concílio. Esta consideração repercute-se no facto de que ninguém em geral confessará que deseja um retorno ao monolitismo da época de Pio XII e ao gueto. Mas, não acontece que tal vontade de retorno se verifica de facto em muitas manifestações concretas da vida eclesial e precisamente sem nenhuma teoria explícita sobre o gueto?

Fala-se de um ‘pequeno rebanho’. Mas de forma não reflectida este é concebido segundo o modelo de uma seita que não quer de maneira nenhuma estar aberta à totalidade da sociedade e da cultura, querendo pelo contrário ser considerada como um ‘resto santo’, sem entregar-se com seriedade à missão universal da mensagem do Evangelho e da Igreja. Identifica-se de forma demasiado simples fé cristã e teologia e por isso todo o pluralismo teológico –por vezes incómodo, certamente – é tratado como uma ameaça à unidade da fé.

Mantém-se o consagrado através do uso tradicional, por mera rotina, como o justo meio com o qual se há de defender de tudo o que é novo, e não se tem em conta que também a rotina pode ser muito ‘extremista’. O pequeno número dos ‘praticantes’ cristãos de outras igrejas se converte em argumento de que não haveria de se esforçar particularmente em oferecer ao maior número possível de pessoas um cristianismo que lhes seja hoje realmente assimilável.

Coisas secundárias, de cuja relatividade não se pode de maneira nenhuma pôr em causa, tornam-se na prática ponto fixos absolutos, a partir dos quais se calcula e decide toda a estratégia eclesial e político-espiritual. Esquece-se que também existe um ‘tuciorismo’ (nome de um sistema moral extremado que,sobrevalorizando o axioma jurídico ‘na dúvida há-que escolher pela parte maissegura’, exige para actuar moralmente, inclusive de entre o que é possivelmente válido, a máxima segurança de opinião) do risco que em casos determinados oferece mais perspectiva de vitória que uma precaução esterilmente prudente. Apenas se arrisca realizar ‘experiências’ que não o são, porque, acabem como acabarem, não afectam a ninguém.

Existe uma pseudoteologia da marcha em direcção ao gueto, uma vontade de tal, nascida do medo, do desencanto pelos contratempos, da preocupação justificada ainda que temerosa pelo Evangelho e pela Igreja. Diante de tal pseudoteologia, inclusive não sendo reflectida e associada a um sistema, deve-se hoje estar atentos.»