terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Liturgia, o Espaço e a Celebração da Fé das Comunidades



Será já no próximo dia 26 de Novembro, segunda-feira, às 21h30, a VIII sessão do Ciclo de Conferências «Uma Janela Aberta para o Mundo - nos 50 anos do II Concílio Vaticano».
 
A próxima conferência tem por título «A Liturgia, o Espaço e a Celebração da Fé das Comunidades», e será orientada pelo Arquiteto Bernardo Pizarro Miranda.
 
Com um amplo trabalho na descoberta do sentido e relação entre a Arquitectura e a Liturgia, o conferencista esteve presente, nomeadamente, nas recentes jornadas «Liturgia, Arte e Arquitetura nos 50 anos do II Concílio Vaticano », realizadas na Universidade Católica de Lisboa a 15 e 16 de Novembro.
 
O encontro será, excepcionalmente, na própria igreja do Mosteiro da Serra do Pilar, Vila Nova de Gaia, e, claro, a entrada é livre e o convite é para todos!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Igreja: Natal continuado e processos de parto



«Não é falsa analogia aquela pela qual se compara a Igreja com o mistério da Encarnação: assim como a natureza assumida pelo Verbo divino lhe serve como órgão vivo de Salvação, a ele indissoluvelmente unido, de modo semelhante, a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer progredir o seu Corpo».
 
Foi a partir desta analogia, apresentada pela primeira vez pelo teólogo Möhler no século XIX e assumida pela Lumen Gentium, que nos sentamos na passada sexta-feira para escutar e aprofundar o sentido da Igreja como sinal e presença do mistério da Encarnação, e como um Corpo que, nos passos de Jesus, continua a nascer e a emergir na história. Uma imagem para falar da Igreja numa altura (sempre em risco de regressar) em que a Igreja era apenas identificada com a instituição, «sociedade perfeita» na expressão do cardeal Belarmino, perfeitamente estruturada numa hierarquia, na prática dos sacramentos, na organização do direito canónico.
 
José Pedro Angélico, cristão, apreciador da estética anos 70 (assumido pelo próprio), e também professor na Faculdade de Teologia do Porto, teve o prazer e deu o prazer à comunidade de partilhar um belo serão com uma linguagem muitas vezes esquecida do mistério da Igreja. Uma Igreja que se assume como sinal e pertença ao mesmo misterio da Encarnação é uma Igreja que reconhece a importância dos seus sinais, das suas instituições, dos seus gestos na medida em que estes significam e transparecem o Evangelho. A partir do momento em que esta missão é esquecida, os sinais e instituições tornam-se fins em si próprios, e perdem o seu significado.
 
Tudo num processo de parto, de constante re-nascimento que, hoje, nos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, continua a ser uma urgência. A fidelidade ao Concílio (e ao espírito do Novo Testamento), exigem uma Igreja em constante interrogação, em vitalidade, à procura da sua missão, à leitura dos sinais dos tempos, à procura do Evangelho de Jesus na linguagem moderna. Uma Igreja que cristaliza a sua fé e o património do Concílio é uma Igreja que deixa de re-nascer.
 
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Escritura e Tradição







E depois de umas merecidas férias, retomamos o Ciclo de Encontros sobre os 50 anos de abertura do II Concílio Vaticano II.
 
A próxima sessão, nº 5, tem por título «Escritura e Tradição, Duas Fontes, um só Rio, uma só Re(ve)lação», e será orientada pelo teólogo Luis Leal.
 
A sessão será na próxima Sexta-Feira, dia 28 de Setembro, às 21h30. O local é o do costume: o belo Salão Nobre do Quartel da Serra do Pilar, e o convite, claro, é gratuito e aberto a todos.
 
Até Sexta!


 
«A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão ìntimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação» DV 9
 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Memórias do Vaticano II

«Posso agora dizer, como é verdadeiramente digno e salutar, que se comemora hoje – 11 de Outubro de 2002 – o 40º aniversário do início dos trabalhos conciliares, em Roma, a 11 de Outubro de 1962. Outro dia perguntaram-me se eu me lembrava do que fiz nesse dia. Não me lembro. Mas lembro-me muito bem que estava em casa da Maria Leonor e do Nuno Bragança, quando, à hora do jantar, o Nuno chegou a casa a dizer que o Papa tinha anunciado, em São-Paulo-Fora-de-Muros a dezoito cardeais, a sua intenção de convocar um Concílio. Foi a 25 de Janeiro de 1959, cinco meses menos um dia antes do nascimento do meu filho mais velho.

O Papa era João XXIII, eleito a 28 de Outubro de 1958, aos 77 anos. Quando se soube dessa eleição, o mesmo Nuno – sempre o mesmo Nuno – comentou comigo que o Espírito Santo talvez se tivesse distraído um bocadinho. Depois do longo pontificado de Pio XII (1939-1958) dizia-se que a Igreja precisava de um ‘papa de transição’, que não reinasse muito. Um papa que não fizesse ondas. Será que havia esse tempo a perder, perguntava-me e perguntava-se o Nuno. Mas a homilia de coroação já foi uma surpresa. Ao assumir-se como Bispo de Roma, ‘irmão de todos os bispos do universo’, retirando a primazia à chefia da Igreja universal, tão proclamada por Pio XII, João XXIII espantou pela vez primeira (ou pela segunda, já que a escolha do nome também deixara muitos perplexos, pois que joões papas os não havia desde o século XIV).

Mas a 25 de Janeiro de 1959 aconteceu muito mais. Um Concílio? Ninguém pensava nisso. E muito menos num concílio para aproximar a Igreja do mundo então contemporâneo. Daí o nosso entusiasmo nesse dia. Algo ia mudar. Uma nova era. Um Concílio – o 22º da História da Igreja – ia fazer parte da nossa história, quase cem anos depois do Vaticano I, que não era santo do nosso altar. Reforma da Igreja como Povo de Deus. Diálogo com os outros cristãos. Diálogo com o mundo. Durante os trabalhos pré-conciliares, estes forma os três grandes vectores de orientação do pensamento de João XXIII. Marcaram igualmente a primeira sessão conciliar (Outubro a Dezembro de 1962), a sessão que ‘tomou o pulso à Igreja’. Depois, foi a Pacem in Terris. Depois, a morte de João XXIII (3 de Junho de 1963, aos 81 anos, cinco anos incompletos de pontificado).

Mas quem viveu esses anos, por exemplo em Portugal, recorda um clima como nunca mais se viveu na Igreja. Aqui, a política deu-lhe um tempero especial. O reinado de João XXIII coincidiu com o exílio do Bispo do Porto, com as primeiras manifestações de católicos contra o regime, com o Santa Maria, com o fim da Índia Portuguesa e com o começo da Guerra de África, com os movimentos estudantis, com os livros da Moraes, com o aparecimento da Pragma e de O Tempo e o Modo. A propósito de tudo, discussões frementes e veementes. O baluarte católico era o primeiro dos bastiões do salazarismo a mostrar rombos. A Seara Nova, revista marxista, publicava o retrato do papa na primeira página, coisa inimaginável nos quarenta anos de vida da revista. Em meios muito conservadores, rosnava-se que já tinha havido outro João XXIII, anti-papa. Quem se seguiria?

Quanto rezámos para que o sucessor fosse esse cardeal Montini, que já tínhamos sonhado ver suceder a Pio XII. E foi Paulo VI. No dia a seguir à eleição, visitei Mário Dionísio, então meu colega como professor no Camões, que estava hospitalizado. Marzista dos quatro costados, militantemente agnóstico, saudou-me com um largo aceno: ‘Vocês agora têm um Papa a valer’. Sorri-lhe, orgulhoso.
Mas cedo começaram algumas reticências sobre o novo Papa. ‘Forma Pacelli, fundo Roncalli’, dizia-se. Quando saiu a Ecclesiam Suam, primeira encíclica de Paulo VI, escrevi n’O Tempo e o Modo um artigo que procurava desesperadamente provar (ou ‘poeticamente’ provar, como me acusava, de Roma e da ‘Capela Sinistra’ o Manuel Lucena, que me recordava que o mais poético nem sempre é o mais verdadeiro), que Paulo VI evoluía na continuidade do seu predecessor.

Foi mais fácil sustentá-lo na 3ª sessão (14 de Setembro a 21 de Novembro de 1964) e na 4ª (28 de Setembro a 8 de Dezembro de 1965). Em 1964, no mesmo O Tempo e o Modo um certo Manuel Frade já via nos textos conciliares ‘muito mais da multissecular sabedoria da Igreja do que daquele pouco da ‘loucura de Deus’ de que todos os homens têm fome’. E acrescentou: ‘O milagre não se deu’.

Mas, se institucionalmente se não deu (e dos milagres aos cismas, vai às vezes um passo, como recordou outro padre conciliar) para mim esses anos – anos da Concilium que a Helena Vaz da Silva espalhou por Portugal e pelo Brasil – foram anos milagrosos. Quem me tirasse esses anos não me tirava tudo, mas tirava-me muito. Como escreveu José Bergamín, esses foram anos em que ‘on respire au Vatican/Une aura si idyllique/Que le Diable devient chrétien/Tout en restant catholique’.»

Um excerto retirado de Joao Bénard da Costa, «Crónicas: Imagens Proféticas e Outras» (1º volume), Lisboa 2010, págs. 78-81

sábado, 30 de junho de 2012

A Caminho do Vaticano III?

«Durante esta semana, em Santander, na UIMP (Universidade Internacional Menéndez Pelayo), realizou-se um Curso de Verão sobre os 50 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965). A direcção pertenceu ao teólogo Juan José Tamayo. O Concílio foi um enorme acontecimento. Sem ele, é inimaginável a situação da Igreja Católica e, consequentemente, dada a sua influência no mundo, também do próprio mundo. Como sublinhou Tamayo, operaram-se grandes transformações:

De uma Igreja que se considerava uma sociedade perfeita passou-se à Igreja como comunidade de crentes. Do mundo como inimigo da alma ao mundo como lugar da vivência da fé. Da condenação da modernidade e das religiões não cristãs ao diálogo multilateral. Da condenação dos direitos humanos ao seu reconhecimento e proclamação. Da condenação da secularização à sua defesa, no sentido do reconhecimento da autonomia das realidades temporais. Da Igreja imutável e imóvel à Igreja que deve estar em constante reforma. Do integrismo católico ao respeito pelas outras crenças. Do autoritarismo centralizado em Roma à colegialidade episcopal. Da Cristandade ao cristianismo. Da pertença à Igreja como condição necessária para a salvação à liberdade religiosa como direito humano fundamental. De uma Igreja europeia a uma Igreja verdadeiramente universal.

Houve limites? Alguns, maiores: apesar de certa abertura ao mundo, o seu carácter eurocêntrico - o horizonte de compreensão foi a modernidade europeia e, nesse quadro, a problemática da crise de Deus no mundo ocidental e o fenómeno da descrença -, e a não centralidade da opção pelos pobres, não se dando a devida atenção às maiorias populares do Terceiro Mundo. O Ocidente acabou por ser o destinatário principal do Concílio. Depois, o antropocentrismo exacerbado fez com que a problemática da ecologia fosse ignorada.

Alguns temas foram silenciados. O Papa Paulo VI impediu que o tema do celibato dos padres fosse debatido - mais tarde, num Sínodo Episcopal, submeteu-o a votação, mas a maioria dos bispos opôs-se. O lugar das mulheres na Igreja e, concretamente, a sua ordenação, bem como o controlo da natalidade, foram arredados do debate.

No dizer de Tamayo, "o Concílio foi uma curta Primavera a que se seguiu um longo Inverno, que dura há mais de 40 anos". Perante os excessos de então, Paulo VI, que tinha convictamente levado a termo o Concílio, mas que era um intelectual hesitante, teve receio e começou a pôr algum travão, numa história de avanços e recuos. Depois, já com João Paulo II, avançou a involução e pôs-se em marcha "um programa calculado de restauração". Acentuou-se o carácter hierárquico-papal da Igreja, limitou-se a liberdade de investigação teológica, muitos teólogos foram condenados, passou-se do pensamento crítico ao pensamento único e dogmático, a Cúria readquiriu poder, os bispos conciliares foram sendo substituídos por bispos fiéis ao neoconservadorismo e ao Vaticano.

Com Bento XVI, que constituiu uma surpresa pela sua humanidade, por medidas fortes contra o clero pedófilo, pela admiração por parte dos intelectuais, o caminho da involução continua: aí estão a restauração da Missa em latim, as negociações com os lefebvrianos, a condenação de teólogos, a centralização. Perante a grave crise que atravessa hoje a Igreja, muitos reclamam um novo Concílio: um Vaticano III, convocado por um João XXIV. Mas há quem, para lá de outras objecções, lembre a questão financeira: um novo Concílio seria demasiado caro.

Pergunta-se, então, se não deveria dar-se, pelo menos, a convocação dos Presidentes de todas as Conferências Episcopais do mundo - há quem, com razão, questione a utilidade do cardinalato -, para resolver problemas urgentes: os escândalos no Vaticano, a questão do celibato, o lugar da mulher na Igreja, reformas das estruturas eclesiásticas, maior descentralização, uma linguagem nova para a expressão da fé, questões novas postas pela globalização e pelas novas tecnologias, tanto no domínio da comunicação como no da vida.»

Anselmo Borges, in Diário de Notícias - 30 de Junho de 2012

sábado, 23 de junho de 2012

Mundo: de Inimigo a Interlocutor



Será já na próxima semana a IV sessão das comemorações dos 50 anos de abertura do II Concílio Vaticano II: «Mundo: de Inimigo a Interlocutor».

A sessão será na próxima Quinta-Feira, dia 28 de Junho, às 21h30, e não dia 29 como previsto, devido à realização de um concerto musical neste dia na Serra, organizado pela Câmara Municipal de V. N. Gaia.

O local é o do costume: o belo Salão Nobre do Quartel da Serra do Pilar, e o convite, claro, é gratuito e aberto a todos.


«Para os que têm fé, uma coisa é certa: a actividade humana, individual e colectiva, ou aquele esforço gigante, com que os homens se atarefam ao longo dos séculos para melhorar as condições de vida, considerado em si mesmo, corresponde à vontade de Deus.» GS 34

sábado, 9 de junho de 2012

Celebrar e viver o Concílio Vaticano II - nota da CEP

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Celebrar os 50 anos da abertura do Concílio no Ano da Fé

1. Na Carta apostólica A Porta da Fé, assim se exprime o Papa Bento XVI: «Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, “não perdem o seu valor nem a sua beleza (…). Sinto hoje, ainda mais intensamente, o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa”. Quero aqui repetir, com veemência, as palavras que disse a propósito do Concílio, poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: “Se o lermos e recebermos, guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja”» (Bento XVI, Carta apostólica Porta Fidei, 2011.10.11, n. 5)
Celebrar o cinquentenário do Concílio, nestes tempos em que a fé deixou de ser um dado evidente, há de ser uma ocasião para aprofundarmos tão grande dom de Deus, que nos faz experimentar a alegria e o entusiasmo do encontro com Cristo na comunidade da sua Igreja. Se a nossa fé não se renova, facilmente degenera num adorno espiritualista e as práticas religiosas não passam de rituais sem alma e coração. Para nada serve o sal que perdeu a força e a luz que fica escondida (cf. Mt 5, 13-16).
Não basta mostrar a nossa concordância com os documentos do Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica, publicado há 20 anos como sua aplicação catequética. É preciso fazer descer à prática quotidiana a riqueza dos seus ensinamentos. Pelos frutos de caridade se conhece a árvore da nossa fé (cf. Mt 7, 17-20). É preciso que a nossa fé encarne num estilo de vida cristã, na família e no trabalho, na vida social e política. Cristo exorta-nos à coerência entre fé e vida real: «Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu» (Mt 7, 21). E S. Tiago recorda-nos que «a fé sem obras está morta» (Tg 2, 26), é inexistente.

Pôr em prática o Concílio
2. A convocação do Concílio Vaticano II deuse 90 anos depois da realização do Concílio Vaticano I, que foi interrompido abruptamente dadas as convulsões pela unificação de Itália, a 18 de dezembro de 1870. A 25 de janeiro de 1959, na Basílica de S. Paulo extramuros, João XXIII, eleito apenas três meses antes, anunciou, inesperada e solenemente, a convocação de um Concílio ecuménico. Tinha em mente não apenas «o bem estar do povo cristão», mas também um convite às «comunidades separadas para a busca da unidade». Sem consultas prévias aos Bispos da Igreja universal, como tinha feito Pio IX antes da convocação do Concílio Vaticano I, João XXIII decide esta convocação «por uma repentina inspiração de Deus», apelidando este Concílio como «flor espontânea de uma inesperada primavera». A Igreja viveu «um novo Pentecostes», como chamou o mesmo Papa ao Concílio. Um dinamismo de renovação foi experimentado na Igreja, aos mais diversos níveis e quadrantes geográficos.
O Papa Paulo VI, na Carta apostólica em que declara encerrado o Concílio, confirma e exorta ao seu cumprimento, assim afirma: «Foi o maior Concílio pelo número de Padres, vindos de todas as partes da terra, mesmo daquelas onde só há pouco foi constituída a hierarquia; foi o mais rico pelos temas que, durante quatro sessões, foram tratados com empenho e perfeição; foi o mais oportuno, enfim, porque tendo em conta as necessidades dos nossos dias, atendeu sobretudo às necessidades pastorais e, alimentando a chama da caridade, esforçou-se grandemente por atingir com afeto fraterno não só os cristãos ainda separados da comunhão da Sé Apostólica, mas até a inteira família humana» (Paulo VI, Carta apostólica In Spiritu Sancto, 1965.12.08)
A Igreja de Cristo é hoje a Igreja do Concílio Vaticano II, que nos compete continuar a aplicar com fidelidade criativa. Queremos dar graças a Deus por este Concílio providencial que continua a inspirar a Igreja. No decurso do movimento de renovação conciliar, ocorreram hesitações e desvios, que não se podem atribuir a este evento de grandeza ímpar, que João Paulo II apelidou de «seminário do Espírito Santo», aberto ao mundo. Felizmente a receção do Concílio Vaticano II deuse entre nós de um modo globalmente positivo. A celebração do presente aniversário deve levarnos a um exame de consciência, pessoal e comunitário, para vermos o que falta fazer para implementar o espírito e a letra do Concílio.

Iniciativas pastorais para viver o Concílio
3. O Santo Padre quis fazer coincidir o início do Ano da Fé com a celebração do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. Assim, recordamos a importância de integrar nos nossos planos pastorais as indicações gerais e as propostas de ação que se encontram na citada Carta apostólica Porta Fidei do Papa Bento XVI e na Nota com indicações pastorais para viver o Ano da Fé. (Congregação para a Doutrina da Fé, Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé, 2012.01.06)     
Os Bispos da Igreja em Portugal exortam os agentes pastorais, a nível de dioceses, paróquias, congregações, movimentos e os responsáveis das mais diversas instituições eclesiais, que promovam o estudo, a reflexão e a aplicação do Concílio Vaticano II, sobretudo dos documentos mais relevantes, as Constituições: Lumen gentium, sobre a santa Igreja; Sacrosanctum Concilium, sobre a sagrada Liturgia; Dei Verbum, sobre a Revelação divina; e Gaudium et spes, sobre a Igreja no mundo contemporâneo.
Propomos que as atividades e iniciativas programadas, como cursos, jornadas, pregações, retiros, encontros, peregrinações, intervenções na comunicação social e a própria oração, possam abordar temas na linha das efemérides celebradas.
O momento celebrativo, a nível nacional, será a 13 de outubro, em Fátima, aproveitando a habitual peregrinação e praticamente em coincidência com a data da abertura do Concílio há 50 anos. Fraternalmente unidos, agradeceremos a Deus a grande graça do Concílio Vaticano II, que ainda hoje continua a ser bússola segura que norteia a vida e a ação da Igreja de Cristo. (...)
As próximas Jornadas Pastorais do Episcopado, em junho, serão também momento de reflexão para avaliar o que já se fez com vista a pôr em prática o Concílio e para projetar o que ainda falta fazer. Todos precisamos de nos examinar para ver o que o Espírito diz à Igreja em Portugal, a fim de continuar a experiência de Pentecostes do Vaticano II.
O dinamismo de renovação conciliar deve também passar pelo projeto em que está envolvida a Igreja nos últimos tempos: «Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal», no horizonte da nova evangelização. Celebrar o Concílio Vaticano II não significa recordá-lo em clima de nostalgia do passado, mas revivê-lo e projetá-lo, na abertura ao futuro onde Deus nos espera. Cabenos a missão de pôr sempre mais em prática o Vaticano II, um Concílio com 50 anos de atualidade.
Fátima, 19 de abril de 2012
Conferência Episcopal Portuguesa